Eu
poderia dizer que os meus sentimentos de infância não foram considerados pela
minha sociedade. As coisas que me tornava um ser significativamente infante, ou
seja, que me causava prazer e me proporcionava descobertas, não foram vistas e
nem diretamente consideradas como fatores importantes para minha formação, pelo
menos pelos meus responsáveis mais próximos.
Olhar
para as estrelas e muitas vezes sentir vontade de voltar para casa, não era
apenas uma imaginação de criança. Cantar e brincar com a luz dos cristais ou
sentir que eu também poderia ser leve e cintilante como as maravilhosas
borboletas, também não foram fantásticas ideias. Tudo isso era o meu
significado de ser humano expresso na infância. Todas as histórias que eu
alterei o enredo, ou todos os desenhos em que representei com cores diferentes
das coisas do mundo físico em que existimos, foram expressões de desejos que eu
tinha, de trazer à tona a realidade em que eu vivia interiormente, para
transformar a realidade na qual eu estava interagindo.
Quem
sabe, alguém que me acompanhou pode pensar que talvez fosse somente “coisas de
criança” e que quando eu viesse a crescer, seria como os adultos. Sim e eu
cresci. E me tornei adulta. Mas não me tornei adulta como os adultos da época
em que eu era criança. Tornei-me um ser adulto com as mesmas impressões
interiores, com o mesmo sentimento de construção de pertencimento a um mundo. Mas
sobretudo da minha identidade.
E na
busca por construir um sentimento de pertencimento, procurei compreender as
situações e para isso, questionava. Não havia outro modo de aprender sobre o
mundo no qual eu vivia e estava crescendo, sem perguntar o porquê das coisas. E
era triste pensar que nem sempre davam atenção para minhas perguntas. Restava-me
observar, refletir ou discutir para descobrir como tudo e todos seguem um ciclo
de situações ao longo de suas vidas e finalmente poder aprender a lidar com os
meus sentimentos em relação a isso.
Segui
o curso natural das coisas, como é a lógica da evolução. E como não pode ser
diferente todas as gerações são o resultado evolutivo da sua geração ancestral.
Eu sou. Considero-me. E repito que eu não poderia sobreviver se tivesse que
continuar numa aldeia global onde o principal sentimento não fosse o amor
incondicional a todas as criaturas.
Ainda
me sinto profundamente ferida por saber que há pessoas que maltratam crianças e
animais. Não que eu tivesse sido maltratada, mas porque hoje vejo isso
acontecer. Crianças e animais são os seres mais sensíveis e indefesos em nosso
orbe. Há uma linha fina entre os que já estão entre nós e os que virão estar
conosco. Os que já estão conosco, estão sobre a nossa responsabilidade. No mais
seremos os ancestrais da próxima geração, os que serão mais evoluídos que nós. Tão
sensíveis! Quais canções contarão? Quais serão seus brinquedos ou animais
favoritos? Quais serão os desejos interiores, que os nossos infantes vindouros
expressarão nos enredos das histórias que irão contar? O que desejarão mudar
quando estiverem desenhando?
O
verdadeiro significado da infância é aquele que damos no sentir o que cada
criança expressa no seu Aqui e Agora. É o sensível olhar que ver e sente a
necessidade particular, que percebe a diversidade, a individualidade, a
coletividade e o contexto; e que, contudo age carinhosamente e com
conhecimento, compreendendo que a expressão do ser humano infante são germens
do adulto em que se constituirá.
[1]
Parte do meu Memorial como requisito parcial de avaliação nos Componentes
Curriculares - Pesquisa e Prática Pedagógica – Educação Infantil e Infância/ VI
Semestre em Pedagogia: Docência e Gestão dos Processos Educativos/UNEB -
Itaberaba-BA. 2011
Imagem 1. Anjo - http://www.KAGAYAstudio.com/
Imagem 2. Eu. Pintura que fiz no Encontro Formativo que realizamos com as Professoras de Educação Infantil da Rede Pública Municipal no I Semestre de 2012.
Imagem 2. Eu. Pintura que fiz no Encontro Formativo que realizamos com as Professoras de Educação Infantil da Rede Pública Municipal no I Semestre de 2012.
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