Psicologia
Escolar na Educação Infantil
Claudinéia
da Silva Barbosa[2]
A primeira linguagem do ser humano é configurada
através das expressões e vínculos afetivos. No texto o “Bebê é inteligente”,
Kramer apresenta o que o título já diz, reconhecendo de fato que o bebê é uma
pessoa. Ainda nos instiga quando questiona: “[...] Será que um bebê é de
algumas semanas é capaz de ligar uma manifestação isolada (o som da voz, por
exemplo) a um todo (uma pessoa)?” (p. 40- 41). E vai mais profundo ainda, com a
questão: “Como ele poderá comunicar a urgência e a natureza de seus desejos e
necessidades a outro, prevendo que esse outro será capaz de reconhecê-los,
aceitá-los e depois satisfazê-los?” (p.46). São reflexões altamente relevantes
para compreendermos como se dar o desenvolvimento do ser infante desde os seus
primeiros meses de vida, e que precisam ser considerados em todas as áreas de
atuação que envolve o atendimento ao ser humano. E de acordo com teoria
sistêmica não estamos isolados, mas nos desenvolvemos através de uma interação
dinâmica e interdependente a partir de diversos fatores que compõem um sistema
social.
Kramer desenvolve ao longo de seu texto, a concepção
sobre o desenvolvimento social do bebê em quanto sujeito que interage primeiro
com a figura materna. É o vínculo mãe-bebê que estabelece a construção de uma
comunicação que vai se maturando através das trocas, desenvolvendo o que Freud
chamou de vínculo simbiótico – acontece quando mãe e bebê são próximos – e a
figura materna sabe distinguir os sinais emitidos pelo filho (choros) e o
acolhe, correspondendo seus desejos. Estabelece-se aí a comunicação. Que vai se
maturando ou como menciona Kramer, “ampliando o vocabulário”. Essa comunicação
é alimentada pelo nível de relação afetiva que é construído. E em nível de
relação e comunicação estão inteiramente dependentes os aspectos que fazem
parte do desenvolvimento infantil.
A figura materna é essencialmente importante para a
constituição do bebê enquanto ser social. Pois é esta a primeira referência de
outro que o bebê constrói. Quando em determinada etapa de seu desenvolvimento,
compartilham o que Kramer chamou de “sintonia interacional” (p.48) quando
estabelecem as interações e intenções. As atitudes da mãe em resposta aos
gestos do bebê, ver se aí a comunicação e a estimulação que já se configura com
novos elementos além da voz e do toque, mas com a imagem e expressões faciais,
mímicas. O que provavelmente evoluirão para cantigas, movimentos corporais mais
amplos.
Segundo
autora, para que o bebê esteja sensível às mensagens da mãe. Estas mensagens
precisam ser repetidas e que eles tenham estabelecido um vínculo. O que nem
sempre foi considerado. Esta é uma concepção recente. Aliás, a concepção sobre
infâncias, sobre crianças num processo educativo, por exemplo, ainda são
relativamente recentes na sua historia e trajetória. Houve um momento na
historia que as crianças eram consideradas adultas em miniaturas. Não eram
compreendidas em suas especificidades na perspectiva de desenvolvimento. As concepções vêm passando por mudanças
a cada época. Atualmente, por exemplo, a experiência educacional com crianças é
responsabilidade que precisa ser compartilhada com a família e a sociedade. Os eixos que fundamentam a educação
para as infâncias são as brincadeiras e interações, pautadas na indissociabilidade
das dimensões cuidar e educar.
Entre outras discussões mais recente
ainda, esta primeira etapa da educação básica, precisa
ter um currículo específico organizado e que atenda as demandas de acordo com o
contexto em que está inserido.
Ou seja, há um novo olhar sobre o desenvolvimento infantil que precisa ser
redimensionado na formação do profissional que atua diretamente com as
infâncias. Sobretudo com a primeira infância, esta fase delicada e extremamente
importante no desenvolvimento do ser humano, a qual Kramer, apresenta a figura
e vínculo materno como elemento essencial para o desenvolvimento do bebê.
Considerando as observações e
pesquisas que tenho feito na minha prática, estudos e interatividade com as
crianças, profissionais docentes e coordenadores pedagógicos das Instituições
de Educação Infantil da rede municipal, através do acompanhamento e apoio técnico
pedagógico da Secretaria de Educação em que trabalho, e também meu olhar
sensível às necessidades que apresentam, considera que ainda há muitas
possibilidades de conhecimento e práticas que precisam ser garantidos e que os
desafios a serem superados.
A começar pela sensibilização e
atuação do sistema público ampliando o que já oferece como de formação
continuada e acompanhamento das ações. Sistematizando os saberes e monitorando
as práticas. Formando a equipe multidisciplinar, disponibilizando por exemplo,
de profissionais como Psicólogo Escolar, Assistente Social, Nutricionista,
Pediatra, entre outros ligados ao atendimento às infâncias. Efetivando assim, o
que chamamos de atendimento de qualidade. Investir na formação dos
profissionais de órgão central, para que estes possam promover a formação e o
acompanhamento das ações aos profissionais da própria rede. Promover um
acompanhamento e orientação familiar mais próximo. Efetivando de fato a
responsabilidade social de cada profissional do setor público.
Com isso, é possível considerar que
cada nível de atendimento estaria mais bem habilitado e envolvido ao que
compete a sua pesquisa, estudo e atuação social. Os conceitos apresentados por
Kramer, a partir de seus estudos sobre o vínculo mamãe e bebê é conteúdo que
precisa, por exemplo, ser conhecido e refletido por todos desde a família
enquanto membros da comunidade civil à todos os profissionais e pesquisadores
envolvidos no poder público ou privado. Porque se trata de um novo paradigma.
Um novo conceito sobre bebê, que como um ser social não deve ser considerado
isolado, e, portanto, está sobre a nossa responsabilidade.
[1] Analise crítica do texto “O
Bebê é Inteligente” de Kramer, relacionando aspectos do texto com experiência
pessoal, profissional, fatos, pesquisas, questões culturais, opiniões pessoais;
com atividade do curso Psicologia Escolar na Educação Infantil. Coordenado pela
Psicóloga Ms. Vivien Rose Bock. Centro de Aperfeiçoamento em Psicologia Escolar
– CAPE / Núcleo de Educação à Distância.
[2]
Pedagoga pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB (2012) e Especialista em
Educação Infantil pela Universidade Internacional de Curitiba – UNINTER (2013).
Imagem de Elena Kucharik
Imagem de Elena Kucharik